‘Arthur só queria fazer propaganda do Hospital de Campanha’, diz presidente da Samel

Sete dias após o grupo Samel e o Instituto Transire entregarem a gerência do Hospital de Campanha Municipal Gilberto Novaes à Prefeitura de Manaus veio à tona um racha entre o grupo empresarial e o prefeito Arthur Neto (PSDB). O prefeito mantinha uma relação de amizade e aliança com a família Nicolau, proprietária do hospital Samel, há muitos anos.

A briga entre as partes teve como pano de fundo, segundo o empresário Luís Alberto Nicolau, a falta de compromisso por parte da Prefeitura de Manaus para com o hospital de campanha municipal. “Eles não fizeram nada e só queriam fazer propaganda, aí deixavam a gente se virar. Eles só atrapalhavam, só burocratizavam”, ressaltou.

Tudo ficou escancarado nesta quarta-feira, 17, quando o empresário, na companhia de oficiais do Exército, foram ao hospital retirar alguns equipamentos doados pela Samel que seriam levados para o hospital de campanha do Exército, no Estado de Roraima, para atender a pacientes internados infectados com a Covid-19. Á ocasião, o prefeito impediu que os materiais fossem retirados da unidade hospitalar, o que gerou uma reação imediata de Nicolau com denúncia nas redes sociais.

Em entrevista exclusiva ao O Poder, Luís Alberto Nicolau, revelou que neste período em que a Samel ficou com a gestão do hospital de campanha municipal, nem o secretário de Saúde, Marcelo Magaldi, nem pessoas do alto escalão da prefeitura, chegaram a entrar em uma das UTIs (Unidade de Terapia Intensiva), do estabelecimento de saúde.

Ele disse que a Samel queria fazer a transição da entrega do hospital, mas, ninguém da prefeitura apareceu no local. “Para você ter uma ideia, o secretário tem medo de entrar no hospital. Ele nunca entrou em uma enfermaria, nunca entrou em uma UTI. Ninguém deles, nem o secretário, nem o subsecretário, muito menos o prefeito”, revelou o empresário.

Nicolau comentou ainda, que não tem como administrar um hospital de campanha de casa “dando entrevistas’” direcionando as críticas para o prefeito Arthur Neto. “Com a gente é mão na massa. O certo é que deve haver uma justificativa de quem foi quem e quem fez o quê nessa pandemia, quem pecou por omissão e quem não pecou”, assinalou.

O desentendimento na relação entre a unidade privada de saúde com a prefeitura começou andar para trás ainda na semana passada, quando a Samel resolveu deixar a gestão do hospital de campanha alegando ‘discordância’ nos métodos apresentados pela gestão pública.

O próprio deputado Ricardo Nicolau (PSD), irmão de Luís Alberto Nicolau, que pediu um afastamento das funções de parlamentar para se dedicar ao atendimento na unidade de saúde, voltou às pressas para a Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam), após a ‘briga’ entre prefeitura e Samel.

Racha

As críticas do presidente da Samel iniciaram após o Prefeito de Manaus, Arthur Neto, por meio de um telefonema, mandar retirar na tarde desta quarta-feira, todos os equipamentos que estavam em um caminhão rumo a Boa Vista, em Roraima, para ajudar pacientes acometidos pelo vírus da Covid-19.

Um vídeo-denúncia foi feito e publicado no Instagram e ganhou grande repercussão após o filho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o senador Flávio Bolsonaro compartilhar o conteúdo e comentar que o prefeito de Manaus estaria colaborando para as mortes em Roraima, ao se negar a doar os equipamentos não utilizados no Hospital de Campanha em Manaus.

Ainda no vídeo, Luiz Alberto Nicolau disse que durante a gestão do Hospital de Campanha, a única coisa que se teve foi bastante ‘raiva do pessoal’, referindo-se a equipe da Prefeitura de Manaus. “Saímos pelo fato de não concordar com os métodos utilizados por eles. O mais grave é que esses materiais estão todos entulhados e não foram comprados por eles, foram comprados pela Samel e pela Transire”, ressaltou o empresário.

O presidente da Samel explicou que o empréstimo de equipamentos é algo bastante comum entre hospital. “Quando é remédio ou equipamento compra-se outro e devolve. É algo bastante comum em hospitais que tem um mínimo de humanidade possível”, ressaltou Luiz Alberto Nicolau.

Prefeitura se defende

Procurada pela reportagem, a Prefeitura de Manaus respondeu, por meio de nota da Secretaria de Comunicação (Semcom), que decidiu encerrar as atividades do hospital de campanha levando em consideração a disponibilidade de leitos nos hospitais estaduais, uma vez que cumpriu sua missão de  socorrer a população durante o pico da pandemia e a falta de leitos pelo governo do Estado, a quem compete a alta e média complexidade.

“Segundo dados da Susam (Secretaria de Estado de Saúde), divulgados na última semana, a taxa de ocupação de leitos clínicos para Covid-19 era de 31% e de UTI para Covid-19 de 54%”. Vale destacar que por três semanas seguidas se registra queda de casos na capital”, diz a nota.

Semana 22: 25 de maio (4.412);
Semana 23:  1 de junho (2.544),
Semana 24:  8 de junho ( 2.264)

A Prefeitura de Manaus reforçou que monitora o comportamento do vírus durante a reabertura do comércio e que, caso necessário, novas estratégias de saúde pública podem ser adotadas, caso se registre novo surto da Covid-19. “Todos os pacientes que ainda se encontram no hospital continuarão recebendo o tratamento normalmente. Após a alta médica do último paciente, o hospital de campanha interromperá suas atividades”, disse.

“Inaugurado no dia 13 de abril, durante o pico de casos de coronavírus em Manaus, o hospital de campanha foi implantado em apenas quatro dias nos prédios de um Centro Integrado Municipal de Educação (Cime), que possui mais de 6 mil metros quadrados. Mesmo sendo um hospital de campanha provisório, nos últimos dois meses a unidade contou com uma estrutura de alta complexidade, funcionando totalmente informatizado com setores primordiais de uma unidade de grande porte. Esterilização de materiais, controle de infecção hospitalar, engenharia clínica, nutrição clínica e arquivo médico e estatística são algumas das áreas gerenciadas por departamentos próprios implantados no hospital”, finalizou a nota.