Samel apoiou estudo com remédio ineficaz para a Covid omitiu morte de 40 pessoas no Amazonas
A pesquisa foi denunciada pela Conep, por entender que os percentuais de morte do estudo estão completamente fora do padrão
Um estudo apresentado oficialmente como base para o uso da proxalutamida contra a Covid-19 no Amazonas omitiu 23 mortes de pacientes que tomaram o medicamento e 21 entre os que tomaram placebo.
Durante divulgação do estudo, pesquisadores afirmaram que houve 12 mortes entre os 317 pacientes que tomaram a proxalutamida. Entre os que tomaram placebo, a informação era de ocorreram 141 óbitos.
No entanto, em uma publicação para o site Clinical Trials, ainda em junho, os mesmos pesquisadores listaram 35 óbitos entre os que usaram a droga e 162 entre as que usaram placebo. O estudo não traz detalhes sobre a situação clínica dos pacientes, tampouco sobre o tratamento oferecido.
Outro detalhe entre o estudo divulgado em Manaus e o publicado no Clinical Trials salta aos olhos.
No estudo apresentado em Manaus, a taxa de mortalidade entre os pacientes que tomaram a proxalutamida foi de 3,7%. Entre os que usaram placebo, foi de 47,6%. Neste caso, foi usado como referência um período de 14 dias.
No Clinical Trials, a mortalidade entre os que tomaram a proxalutamida foi de 11%. Entre os que usaram placebo, de 49,39%. Aqui, o período foi de 28 dias.
No total, 645 pacientes participaram da pesquisa, que teve o apoio e patrocínio do Grupo Samel, rede de hospitais e planos de saúde, foi aprovado pela Comissão Nacional de Ética e Pesquisa, do Conselho Nacional de Saúde, a Conep.
O estudo coordenado por Flávio Cadegiani foi aprovado pela comissão em 27 de janeiro, mas suspenso em maio (já após a finalização) porque os membros da comissão perceberem as irregularidades. A Conep quer saber agora quais os números reais dos estudos e detalhes sobre as mortes.
A pesquisa foi denunciada pela Conep, por entender que os percentuais de morte do estudo estão completamente fora do padrão e que os pesquisadores descumpriram os termos propostos e aprovados pela comissão. Para eles, existe hipótese de fraude nos dados, já que há inconsistências nos resultados.
Outras irregularidades no estudo também são alvo do Ministério Público Federal do Amazonas.
A importação e o uso da proxalutamida estão suspensos em pesquisas científicas no Brasil desde 2 de setembro, por decisão da Anvisa.
O apoio dos Bolsonaro
A divulgação do estudo foi elogiada pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, no Twitter.
Em julho, o presidente Jair Bolsonaro, após o desgaste da cloroquina e da ivermectina, já havia apontado os benefícios do uso da proxalutamida no tratamento da covid, tese em comprovação científica.
Outro estudo, publicado recentemente no Frontiers in Medicine, concluiu que a taxa de hospitalização em homens tratados com a proxalutamida foi reduzida em 91% em comparação com os tratamentos convencionais.
No entanto, o mesmo artigo foi rejeitado por publicações científicas de prestígio, como The New England Journal of Medicine e The Lancet.