Manaus sofre risco de terremotos por exploração de gás, afirma estudo
Por estar em uma área onde existem falhas neotectônicas e comportar atividades de exploração de gás, Manaus pode sofrer terremotos no futuro. O alerta é de pesquisadores após um estudo feito pela Universidade Estadual de Campinas, em parceria com a Universidade de Córdoba, na Argentina, e com a Johns Hopkins University, em Baltimore.
O estudo foi divulgado na revista Earthquake Spectra, na quinta-feira (13). Para os pesquisadores, a exploração de petróleo e gás deve ser evitada perto de áreas urbanas onde o padrão sísmico prevê baixa sismicidade natural e com uma alta proporção de infraestrutura residencial mal construída, ou seja, Manaus é o exemplo de cidade que não foi construída com a preocupação da ocorrência dos terremotos, que se vierem a acontecer poderiam gerar diversos danos.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 53% da população local, cerca de 348 mil famílias, vive em ocupações irregulares. A ocorrência dos terremotos pode gerar uma média de US$ 189 milhões de danos por ano.
Uma das propostas do estudo é mostrar que há possibilidades de se prevenir caso o evento sísmico realmente aconteça, uma chance de diminuir os danos materiais e econômicos.
Pela alta presença do gás potencialmente explorável, o Ministério de Minas e Energia do Governo Federal demonstra interesse em incentivar a exploração local. Com a divulgação da pesquisa, será necessário pensar em estratégias para que isso ocorra da forma mais correta possível a fim de evitar que o problema ocorra, como não realizar a exploração na zona metropolitana.
Em entrevista ao site O Globo, Luiz Vieira, um dos pesquisadores explicou como ocorre a exploração do gás e como isso facilitaria a ocorrência dos terremotos.
“A exploração de gás se dá pela injeção de água, em alta pressão, nas rochas onde esses gases estão depositados. Depois desse processo, a água, altamente contaminada, é colocada em poços extremamente profundos, e é daí que elas conseguem penetrar nas falhas”, alertou.
Esta é a primeira vez, de acordo com o especialista, que se conseguiu provar, pela análise de dados, a possibilidade real de existirem terremotos em áreas do Brasil, país que tem poucos eventos de atividades sísmicas. A pesquisa também funciona como um alerta para os riscos da atividade de extração de gás.
“As normas brasileiras de construção não estão preparadas para projetar edificações protegidas para abalos sísmicos, já que o fenômento não é recorrente no país. O estudo vem, inclusive, para isso, mostrar o que pode acontecer e como se prevenir”, afirma o especialista.