Polícia Civil: Delegado preso assumiu chefia um dia antes do crime de Marielle
Na última domingo (24), ocorreu a prisão de Rivaldo Barbosa pela Polícia Federal (PF), trazendo à tona uma figura central no cenário policial do Rio de Janeiro. Nomeado para liderar a Polícia Civil do estado em 8 de março de 2018, Barbosa assumiu o posto oficialmente cinco dias depois, logo na antevéspera da trágica morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. A decisão de sua nomeação partiu do comando da intervenção federal na segurança pública do Rio, sob a assinatura do general Walter Braga Netto. Porém, é importante ressaltar que a escolha de Barbosa para o cargo foi anunciada anteriormente, em 22 de fevereiro, durante o período da intervenção federal.
A detenção de Barbosa se deu em sua residência, situada em um condomínio no bairro de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. Interessante destacar que, naquela época, a nomeação de Barbosa encontrou resistência dentro da própria Polícia Civil, cuja área de inteligência desaconselhava sua indicação para o comando. Contudo, de acordo com as investigações da operação da PF, o general Braga Netto, responsável pela intervenção na segurança do Rio, insistiu na nomeação de Barbosa.
General da reserva, Braga Netto, após servir como interventor na segurança do Rio por ordem do então presidente Michel Temer, migrou para a arena política. Ele ocupou o posto de ministro chefe da Casa Civil no governo de Jair Bolsonaro de 2020 a 2021 e, posteriormente, ministrou a Defesa de 2021 a 2022. Candidatou-se a Vice-Presidência na chapa de 2022 pelo PL, encabeçada pelo então presidente. Atualmente, Braga Netto enfrenta investigações sobre possível envolvimento em tentativas de golpe de Estado para obstruir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, além de participação nos atos do dia 8 de janeiro de 2023.
Ao assumir a chefia da Polícia Civil, Barbosa verbalizou seu compromisso de “lutar contra a corrupção”, considerando esta tarefa uma de suas principais metas durante seu mandato, que se estendeu de março a dezembro de 2018. Revelações sobre as investigações tanto no Rio quanto em Brasília sugerem que Barbosa pode ter negociado com Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio, com o objetivo de mascarar os mandantes do assassinato de Marielle Franco. Ainda há suspeitas de que Barbosa tenha recebido propina para frear as investigações sobre o crime, com acusações de um pagamento em torno de R$ 400 mil para tal fim, embora ele negue tais atos.
Uma declaração de Ronnie Lessa, ex-policial militar, à PF aponta que Barbosa estava ciente do crime, garantindo a impunidade dos envolvidos. Durante a investigação, a postura de Barbosa parece ter sido de dispersar o foco, como quando direcionou a atenção para informações erroneamente vinculadas a agentes da PF, que supostamente teriam localizado uma “testemunha” dos assassinatos. Além disso, Barbosa tentou assegurar, através de reuniões com parlamentares do PSOL e declarações à imprensa, que as investigações estavam no caminho certo para solucionar o caso.
Formado em Direito em 1998, Barbosa se apresenta como professor da matéria. A reação ao episódio do seu encarceramento foi significativamente marcada por Marcelo Freixo, atual presidente da Embratur e ex-parlamentar pelo Rio, que compartilhou em suas redes sociais o impacto de ver Barbosa, a quem havia recorrido imediatamente após o assassinato de Marielle e Anderson, agora preso por supostamente proteger os responsáveis pelo crime.
Uma declaração de Barbosa à imprensa no dia seguinte ao crime em 2018 evidenciou seu compromisso em aplicar todas as medidas “possíveis e impossíveis” para elucidar o caso, afirmativo da gravidade do crime contra a dignidade humana e a democracia. Contagem detalhada pela Agência Brasil.