Amazonas

Governador do AM nega envolvimento em práticas ilegais durante pandemia: ‘Minha determinação era pra que se salvassem vidas’

Lima foi alvo de buscas e bloqueio de bens na Operação Sangria, deflagrada pela PF e MPF, nesta terça (30). Secretária de Saúde, Simone Papaiz, foi presa.

O governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), alvo de operação da Polícia Federal, negou o envolvimento em práticas ilegais nos gastos do governo durante a pandemia de Covid-19. Lima foi alvo de buscas e bloqueio de bens na Operação Sangria, deflagrada pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal (MPF), nesta terça-feira (30).

A força-tarefa prendeu a secretária de saúde do estado, Simone Papaiz, e outras sete pessoas, que já deram entrada no sistema prisional do Estado. A investigação aponta supostas fraudes e desvios na compra de respiradores para atender casos de Covid-19 no estado, que já registra mais de 2,8 mil mortes pela doença, até esta terça.

Em vídeo publicado nas suas redes sociais, Wilson Lima diz que estava cumprindo agenda oficial em Brasília, nesta terça, quando foi surpreendida com a operação da PF. Ele disse que ficou surpreso com a ação e que é o principal interessado na apuração dos fatos.

“Durante o pico da pandemia, a minha determinação era pra que se salvassem vidas, e aí havia necessidade de celeridade nos processos para aquisição de materiais para o combate ao coronavírus”, disse.

A PF chegou a pedir a prisão de Lima, mas o ministro Francisco Falcão, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), disse que, “ao menos neste momento”, isso não se justifica.

O governador do Amazonas encerrou o vídeo, de 46 segundos, negando envolvimento nos crimes. “Em nenhum momento houve qualquer determinação para prática ilegal, pra corrupção, ou qualquer coisa nesse sentido. Portanto, eu estou absolutamente tranquilo e na certeza de que esses fatos serão logo esclarecidos”, finalizou.

Investigadores informaram à TV Globo que o governador não quis fornecer a senha de dois celulares apreendidos nesta terça-feira (30) na Operação Sangria. Esta é a terceira operação da PF sobre coronavírus que tem como alvo um governador de estado. Antes de Lima, Helder Barbalho (MDB), do Pará; e Wilson Witzel (PSC), do Rio de Janeiro, foram alvos.

Compra de respiradores

A investigação da Polícia Federal (PF) aponta supostas fraudes e desvios na compra de respiradores, com dispensa de licitação, de uma importadora de vinhos — os equipamentos deveriam ser destinados ao combate ao novo coronavírus, que causa a doença Covid-19. A PF cumpriu os mandados na sede do governo do estado, na casa de Lima e na secretaria de saúde, em Manaus.

Segundo a investigação, foram identificadas compras superfaturadas de respiradores; direcionamento na contratação de empresa; lavagem de dinheiro; e montagem de processos para encobrir os crimes praticados com a participação direta do governador.

No requerimento, a subprocuradora-geral da República Lindôra Araújo sustenta que as investigações permitiram, até o momento, “evidenciar que se está diante da atuação de uma verdadeira organização criminosa que, instalada nas estruturas estatais do governo do estado do Amazonas, serve-se da situação de calamidade provocada pela pandemia de Covid-19 para obter ganhos financeiros ilícitos, em prejuízo do erário e do atendimento adequado à saúde da população”.

Em um dos contratos investigados foi encontrada suspeita de superfaturamento de, pelo menos, R$ 496 mil, segundo a investigação. A força-tarefa também apurou que os respiradores foram adquiridos por valor superior ao maior preço praticado no país durante a pandemia, com diferença de 133%.

A operação cumpriu mandados de prisão temporária contra oito pessoas, além de buscas e apreensões em 14 endereços de pessoas ligadas a Lima.

Além da secretária de Saúde, outras sete pessoas foram presas, seguindo determinação de Falcão, do Superior Tribunal de Justiça (STJ): João Paulo Marques dos Santos, ex-secretário de saúde; Perseverando da Trindade Garcia Filho, ex-secretário executivo adjunto de saúde; Alcineide Figueiredo Pinheiro, ex-gerente de compras da secretaria de saúde; Fábio José Antunes Passos; Cristiano da Silva Cordeiro; Luciane Zuffo Vargas de Andrade; Renata de Cássia Dias Mansur Silva. O G1 tenta contato com as respectivas defesas.